Quando se gosta quer-se que a pessoa de quem gostamos seja nossa, como se fosse um direito. E se estiver escrito em "Diário da República" tanto melhor. As coisas, infelizmente, não são assim e já ninguém é de ninguém, já ninguém dá a mão, na melhor das hipóteses faz-se um "leasing", arrenda-se a mão ou coisa do género. Não gosto nada disto. As defesas apoderam-se de nós, sentimos o ritmo cardíaco a aumentar e "ai a minha vida a andar para trás", estamos com aquela pessoa de quem tanto gostamos e pensamos "não lhe posso mostrar já que gosto dela, senão está tudo estragado!", temos a oportunidade de estarmos juntos logo naquele dia e "ai que isto não é bem assim".
Talvez por isso eu não percebo este amor que pensa e reflecte. O amor, a paixão, o desejo - todos parentes próximos de uma mesma família - não pensam muito, porque não existe uma lógica, uma norma a seguir, um "agora temos de ir ao cinema, jantar, teatro, exposição" e "vê lá o que está a dar na televisão" e "olha que eu não sou dessas" e ainda dez mensagens por dia!
Para mim, basta-me saber que gosto - e gosto - e perceber que o meu corpo responde por mim - e responde. Não tem de haver pressa! - dizem alguns. Não tem?! Ai não, que não tem! O desejo não me parece ser algo tranquilo, é exactamente o contrário, é stressadinho, fuma cigarro atrás de cigarro - saia da frente que tenho pressa! -, o desejo buzina ao cair do semáforo verde, é taxista em hora de ponta - saia daí senhor! - quer passar a frente de todos tipo Chico esperto -, tem urgência em chegar, quer ser rápido para se manifestar junto de quem se gosta.
Quando gosto de alguém, não quero saber se aquele ou o outro acredita nisso, não me interessa até perceber se ela própria acredita. O que me interessa mesmo é que eu saiba disso - e sei - é que eu acredite - e acredito - e que seja verdade - verdadinha."
By Fernando Alvim
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